Gatos me mordam!
Nero hoje me acordou com mordidas nos pés! Insuportável... Felino maldito, este. Bola de pêlos inútil, coisa estranha! É tão macabro que... Já não mia há algum tempo. Nem sequer toca na ração. Ainda me vem miando junto ao rosto com bafo de carne, carne crua. Pensando bem, tenho que tomar mais cuidado com as comidas na geladeira. Ando muito esquecida, e ocupada, então posso ter deixado algum bife na pia.
Escuto agora, pela vitrola, as músicas de meu tempo. Ai como eram belas! O bom e velho tango, que libera calor aos ouvidos e o embebedado cheiro de vinho às narinas! Enquanto isso, eu espero a água do chá ficar pronta.
Uma boa xícara de camomila e torradas bem quentinhas pela manhã já me deixam satisfeita até o meio-dia. É que no intervalo de seis até as doze, me coloco à difícil tarefa de manter a ordem e o bom andamento do edifício em que sou síndica. Coordeno tudo sem sair de minha sacada. Minha poltrona já se acostumou em ficar por lá, me esperando chegar arrastando as pantufas, e me sentar sobre seu macio leito, apoiando as pernas na mesinha da frente, que também sustenta a xícara de chá e o prato de torradas.
Agora já vejo todo o estabelecimento em que me refiro, que nem é tão grande, esta bodega! Eis que cortinas se abrem, luzes se acendem – Já posso ver uma janela aberta. Um apartamento que acorda. É dia! Que comece o espetáculo das insanidades humanas.
Tams diz: Mas... e o resto?
Léo responde: O resto é o resto. O resto você já conhece.
Tams rebate: conheço?
Léo comprova: Sim. Vê todo dia nos noticiários. Insanidades humanas.
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